segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O QUE É UMA ORQUEXTRA (4)
John Cage falando sobre musica & som num documentario - disponivel no Youtube : http://www.youtube.com/watch?v=2aYT1Pwp30M 
" quando eu ouço o que a gente chama musica, tenho 
a impressão de que alguem esta falando, e falando sobre seus sentimentos ou sobre 
suas ideias de relacionamentos.
Quando eu ouço os sons de trânsito na rua, eu não tenho a sensação de que ninguem 
esta falando, mas de que o som esta atuando e eu amo a atividade do som.
O que ele faz é ficar mais alto mais baixo, mais agudo e grave, curto e longo; 
eu me sattisfaço complemente com isso. não preciso de sons falando pra mim."

A ideia de Orquextra como analogia da cidade trem muito a ver com isso na formulação sonora. 
É um texto anterior a execução sonora que nega os pressupostos tradicionais da execução sonora em conjunto.
A cidade não é apenas TEMA do material, mas ela é o proprio material. Não se esta fora do objeto, 
falando ou sentindo ou tecendo teorias sobre ele.
A razão de ser dessa ação musical é estar no meio dele, ser parte dele.


quinta-feira, 27 de agosto de 2009

OQUE É UMA ORQUEXTRA (3)

Se considerarmos que colcocar algumas pessoas fazendo musica junto reflete um formato já pré-existente na vida social, a Orquextra vem se desdobrando a partir de diferentes referencias: igreja, escola e Estado. As corporações (o próprio nome já indica) eram formações musicais criadas em categorias profissionais - com seus integrantes - a partir da Revolução Industrial. 
Já no Japão, desde a muito tempo, familias tradicionais de músicos através de várias gerações estabeleceram escolas onde reproduzem o seu conhecimento e práticas.
As igrejas - das mais diferentes tradições no Ocidente e Oriente - criaram formações musicais com funções bem determinadas nos cultos e rituais. Martinho Lutero - o reformador - usou a prática musical de forma extremamente engenhosa. Seguindo o processo racionalizador do Iluminismo, que respondia também a demandas sociais, políticas e econômicas, ao buscar estabelecer bases "racionais" para a prática musical na Europa Central, Lutero criou padrões de prática musical, estabelecendo, texto (melodia e texto) e inserindo a narrativa musical em fórmulas simples no decorrer do ritual religioso, da missa. Respondendo assim a todo um movimento da época que empreendeu a busca de padrões fixos de comunicação, que pudessem ser reproduzidos de forma mecânica, criando assim uma nova escala de divulgação e alcance para esses materiais. O cravo ficou bem-temperado e assim, pôde ser reproduzido em larga escala, sem que houvesse grande variação no seu  formato. Reproduzia um padrão "racional" de afinação e execução musical. Complementando esse movimento, edições de músicas deviam se adequar a esse enquadramento e homogeinização na formulação e representação dos parâmetros sonoros como altura, duração, ritmo e dinâmica. 
A rotativa começava a girar e a ganhar cidades e vilas nunca alcançadas. 
Poderia-se amolecer almas nos rincões mais recônditos com o mesmo material e a baixo custo. Mestres de Capela teriam um treinamento uniforme e estariam amparados por materiais homogêneos, seguindo uma linguagem musical única. 

Esse modelo o Estado moderno vai reproduzir na versão laica.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O QUE É UMA ORQUEXTRA (2)
Uma Orquestra é sobretudo relações que se estabelecem. A natureza dessas relações determinam o tipo de conjunto - ou Orquestra - existente. Certas características da composição musical pré -existente também pode determinar o tipo de relações que serão estabelecidas entre os participantes na exucução, na Orquestra. O mais importante, pra inicio de conversa, é identificar as relações humanas, sociais, politicas e criativas que estão colocadas em cada composição e modo de operar do grupo musical. Não ter receio em considerar que qualquer agrupamento humano é de alguma forma a expressão do macrocosmo, uma miniaturização, já é um início. 

terça-feira, 25 de agosto de 2009

O QUE É UMA ORQUEXTRA ? (01)

Uma Orquextra é um corpo coletivo. Uma rede, em linguagem cibernética. Ao longo do tempo, a conformação e configuração do tocar junto adquiriu procedimentos, estratégias e significados que refletiram aspectos da sociedade e da cultura da época.
Um bando de músicos tocando juntos, retratavam relações sociais também. A criação da figura do condutor, do regente, foi um reflexo do desenvolvimento da linguagem musical na Europa.
Mas na música chinesa, japonesa e em outras tradições não-ocidentais por exemplo, esse personagem faz parte de todo um sistema de hierarquias e tradições que remetem até mesmo ao príncipio da ancestralidade parental. Familias dominam a transmissão do conhecimento na música, teatro e dança no Japão com uma legitimidade quase que tribal.
Como um organizador do tocar junto, o regente na música ocidental é uma espécie de concretizador das instruções que  o compositor colocou na partitura.
A orquestra sinfônica se desenvolveu em paralelo a estrutura do Estado moderno. Criou instâncias e regiulamentações cujo perfil oas faz parecer com uma repartição pública. Existem as conquistas de direitos civis, é óbvio; mas também ela se ressente de um burocratismo nas relações sociais e também criativas, assumindo um papel social cristalizado, mumificado na sociedade pré-democrática e democrática.
Recordo John Cage que escreveu algo assim: um grupo de músicos não precisa necessariamente se amontoar com numa foto oficial de um time de beisebol.
Existe o som e o espaço.



segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Musica, pra quê?!

Uma orquestra de Gagaku no Japão Imperial tocava não para a platéia, apenas para expressar a harmonia de seus praticantes e do entorno. Na tradição do Gagaku, em em geral da rtae japonesa, a idéia é imitar o mais possível o mestre, chegar ao refinamento, não a inovação. Imobilidade.
No Ocidente, em especial na música de tradição européia, a imitação leva a decadência, degenera. O movimento se dá na ruptura, uma forma legítima forma de continuidadee porque refinamento (de refino).
Outro aspecto interessante no Gagaku, é que como se perderam os manuscritos das composições completas, o que se toca - amuito - são fragmentos. Trechos musicais , cujos inicios e finais se perderam, essa incoompletude, criou uma sensação de que a música vem de algum lugar ja iniciado e não chega a lugar algum muito determinado, uma vez que o final da estrada é incerto e se perdeu.
Um outro elemento interessante é a idéia de que entre as notas existe um espaço vazio, Ma, de respiração, um espaço negativo (intervalo de vazio entre objetos). O conjunto deve então respirar junto, como um grande corpo coletivo na execução musical.