segunda-feira, 26 de outubro de 2009

O PAPO FURADO DA TECNOLOGIA (IV)


Qual é o papo furado da tecnologia?

Na verdade a pergunta correta é: quem usa o papo furado da tecnologia e para que?
São as empresas produtoras de tecnologias e os incautos (e as vezes nemum pouco incautos) consumidores dela, nas diferentes áreas. Ou ainda, aqueles que utilizam um discurso pré-formatado pelo setor comercial tecnológico para legitimar a tecnologia como expressão e linguagem.

Na área da criação artistica: artistas, críticos e teóricos que atribuem as tecnologias qualidades que elas não tem. Pelo contrário, são justamente essas qualidades atribuidas, os maiores defeitos do corpus duro da tecnologia.

Mesmo interativa, eletrônica, etc; a programação no computador aplicada aos diferentes materiais - sonoro,imagens, etc - prescinde da articulação de uma poética. Prescinde da simbolização. 

Ai começa a conversa...

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O PAPO FURADO DA TECNOLOGIA (III)


Mais importante do que o que pensamos, é como pensamos. Porque uma coisa determina a outra . 

Se nossos automatismos mentais e conexões neurológicas estão amestradas para seguir certos procedimentos e estabelecer determinadas relações, independente de que área ou função esta se tratando, então esse é o ponto onde se encontra o eixo dos conceitos que edifica o nosso pensamento, juízo e ação.

Assim, a cada nova ferramenta que se adiciona ao arsenal existente, estamos criando extensões, mais que rupturas. Esse é o movimento essencial da tradição. Ela não existe sem essa dinâmica, se constitui a partir dela. 

Portanto, devemos inicialmente relativizar e nos reorientarmos quanto a conceitos como evolução, ruptura, novo paradigma, etc: uma vez que estamos atrelados a uma corda muito longa, cuja vibração cria alterações de superfície, mas fincadas num mesmo eixo.

Tudo isso para colocar uma desconfiança básica que o cridor deve ter com relação a ferramentas e materiais que já trazem embutidos toda uma programação que é a sua razão de ser e determina boa parte de seu uso.
Prefiro trabalhar com softwares e hardwares mais neutros, que possibilitam uma manipulação ou que são meras ferramentas de coordenação de outros materiais.


sexta-feira, 16 de outubro de 2009

O PAPO FURADO DA TECNOLOGIA (II)


A colocação da discussão que relaciona tecnologia mecânica e eletrônica e criatividade, precisa ultrapassar as fases do deslumbramento  que novos meios sempre provocam nos sentidos primários. 

Essa fase, por si mesma, se esgota e infelizmente, deixa sequelas que se convertem, em padrões e formatações que ultrapassam a sua vida util e tornam-se paradigmas nas fases seguintes, onde outros elementos de formulação como a constituição de uma relação distanciada e crítica - enfim, de uma poética - toma o lugar do deslumbramento inicial.

Cada vez mais as ferramentas são criadas com usos e aplicaçnoes embutidas. Esses usos buscam ampliar a capacidade de mercado de consumo dessas ferramentas e tecnologias. Assim como a escala temperada de frequencias propiciou a fabricação em série de instrumentos musicais como o piano, acordeon, orgão, etc; o protocolo universal de linguagem de construção , formatação e processamento dos equipamentos eletronicos propricia que cada vez eles possam "conversar" entre si, ampliando e estimulando o seu consumo. Pragmatismo protestante.

Interessante é notar como os japoneses entraram nessa corrida por tecnologias de comunicação, imagens e música, uma vez que a sua cultura clássica baseia-se no imobilismo e na repetição de padrões.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O PAPO FURADO DA TECNOLOGIA (I)


Nos ultimos 30 anos as tecnologicas eletrônicas transformaram o modo de produção musical, mas e o modo de concepção musical? É certo que as maquinas direcionam os uso e procedimentos em grande medida, mas sempre foi assim, desde a invenção da tipografia. Existe um pensamento subjacente a tecnologia, elea não é neutra. Isso qualquer estudo sociológico mais crítico já vem apontando a muito tempo.

Mas e com relação a estética (outro palavrão)?

Ela também se baseia em idéias e valores que determinam também as pesquisas em tecnologia.

Assim, ficaria estabelecido um circuito fechado virtuoso..... ficção científica!

Na realidade, a tecxnologia deve cada vez mais responder a demandas do capital em suas ferramentas, usos e procedimentos, do que qualquer coisa. Aliás, essa passou a razão de ser do desenvolvimento tecnológico. Não se trata mais de uma, hoje vista, inocência iluminista de ampliação de conhecimento do homem; mas sobretudo, de criar possibilidades de novos negócios e oportunidades.

Isso me deixa com os dois pés atrás quando se fala em novas tecnologias na invenção artística e etceteras.  

Só mesmo quem não experimentou o que realmente significa trabalhar e criar na fronteira de novos procedimentos e materiais, pode adotar sem qualquer filtro crítico o discurso de fabricantes de equipamentos e seus advogados acadêmicos, que buscam legitimar para uma pequena comunidade (mais influente) essa corrida "tecnologica" na sociedade de consumo.



quinta-feira, 8 de outubro de 2009

OSESP DOS POBRES QUINTA PARTE


Ontem Décio Pignatari em um bate papo no SESC, bradou que "nos falta a compreensão de que um fato a 200 anos mudou tudo, inclusive nossas mentes: a revolução industrial!" 

Para ele, as mudanças de um mundo rural milenar para o mundo das máquinas, mecânico, formatou e formata as mentes. 

Isso é o importante: não apenas o aparente da tecnologia de máquinas e equipamentos, mas a tecnologia cognitiva e neuro-cultural que esta envolvida nesse processo. A mente projeta, a realização, é o resultado aparente. Voltamos aos Gregos e a questão da essência e da aparência. 

No mundo dos sons convivemos com um espectro de naturezas sonoras diversas: sons naturais, sons das máquinas, dos instrumentos musicais acusticos e eletro-eletrônicos e os sons digitais. Mas a linguagem que permeia a elaboração humana desse material tem recebido pouca atenção. 

O crescente automatismo cultural que predomina, a reboque da velocidade fantástica com que se ampliam as ferramentas de manipulação sonora, tem nos levado a um paradoxo: de um lado uma ampliação e de outro, uma retração. A ampliação é simples de se perceber, está na cara, ela se dá no plano do visível, das máquinas. A retração, é mais sutil, se dá no plano da linguagem. Uma vez que se mistura tudo com tudo, a contaminação - extremamente saudável e, certamente, parte de um processo do conhecimento e da dinâmica s-ócio-cultural - embaralha as coisas e faz prevalecer as soluções (darwinianamente falando) que devoram aspectos mais sutis e sofisticados de articulação da linguagem. Isso nos leva a um medianismo plural, mas que achata a geografia do conhecimento, nos conduzindo de uma forma mais segura - sem surpresas e desafios - numa planície em que a linguagem digital uniformiza procedimentos e usos.

A Orquextra de Musicos das Ruas é uma resposta a essa pluralidade ainda em processo falta agregar muitos outros universos de sonoridades.
 

sábado, 3 de outubro de 2009

OSESP D O S POBRES QUARTA PARTE


A Orquextra de Musicos das Ruas passa por uma tipificação dos personagens atuantes e também por uma organização temporal do espetaculo. Porque a musica é pensada sinfonicamente como um todo, um espetáculo, uma narrativa. 

Dessa forma, a organização temporal é o eixo principal. Na primerira temporrada de NEUROPOLIS na Sala Olido em São Paulo, 2004, criei um mapa de tempos e densidades. Ou seja, a duração de cada musica, o numero e quais musicos tocariam em cada uma delas. Não foi estabelecido o que eles tocariam, apenas quanto duraria e quem o faria.

A partir daí, foi estabelecer as conexões entre as identidades musicais e instrumentos.