Ontem Décio Pignatari em um bate papo no SESC, bradou que "nos falta a compreensão de que um fato a 200 anos mudou tudo, inclusive nossas mentes: a revolução industrial!"
Para ele, as mudanças de um mundo rural milenar para o mundo das máquinas, mecânico, formatou e formata as mentes.
Isso é o importante: não apenas o aparente da tecnologia de máquinas e equipamentos, mas a tecnologia cognitiva e neuro-cultural que esta envolvida nesse processo. A mente projeta, a realização, é o resultado aparente. Voltamos aos Gregos e a questão da essência e da aparência.
No mundo dos sons convivemos com um espectro de naturezas sonoras diversas: sons naturais, sons das máquinas, dos instrumentos musicais acusticos e eletro-eletrônicos e os sons digitais. Mas a linguagem que permeia a elaboração humana desse material tem recebido pouca atenção.
O crescente automatismo cultural que predomina, a reboque da velocidade fantástica com que se ampliam as ferramentas de manipulação sonora, tem nos levado a um paradoxo: de um lado uma ampliação e de outro, uma retração. A ampliação é simples de se perceber, está na cara, ela se dá no plano do visível, das máquinas. A retração, é mais sutil, se dá no plano da linguagem. Uma vez que se mistura tudo com tudo, a contaminação - extremamente saudável e, certamente, parte de um processo do conhecimento e da dinâmica s-ócio-cultural - embaralha as coisas e faz prevalecer as soluções (darwinianamente falando) que devoram aspectos mais sutis e sofisticados de articulação da linguagem. Isso nos leva a um medianismo plural, mas que achata a geografia do conhecimento, nos conduzindo de uma forma mais segura - sem surpresas e desafios - numa planície em que a linguagem digital uniformiza procedimentos e usos.
A Orquextra de Musicos das Ruas é uma resposta a essa pluralidade ainda em processo falta agregar muitos outros universos de sonoridades.
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