segunda-feira, 26 de outubro de 2009

O PAPO FURADO DA TECNOLOGIA (IV)


Qual é o papo furado da tecnologia?

Na verdade a pergunta correta é: quem usa o papo furado da tecnologia e para que?
São as empresas produtoras de tecnologias e os incautos (e as vezes nemum pouco incautos) consumidores dela, nas diferentes áreas. Ou ainda, aqueles que utilizam um discurso pré-formatado pelo setor comercial tecnológico para legitimar a tecnologia como expressão e linguagem.

Na área da criação artistica: artistas, críticos e teóricos que atribuem as tecnologias qualidades que elas não tem. Pelo contrário, são justamente essas qualidades atribuidas, os maiores defeitos do corpus duro da tecnologia.

Mesmo interativa, eletrônica, etc; a programação no computador aplicada aos diferentes materiais - sonoro,imagens, etc - prescinde da articulação de uma poética. Prescinde da simbolização. 

Ai começa a conversa...

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O PAPO FURADO DA TECNOLOGIA (III)


Mais importante do que o que pensamos, é como pensamos. Porque uma coisa determina a outra . 

Se nossos automatismos mentais e conexões neurológicas estão amestradas para seguir certos procedimentos e estabelecer determinadas relações, independente de que área ou função esta se tratando, então esse é o ponto onde se encontra o eixo dos conceitos que edifica o nosso pensamento, juízo e ação.

Assim, a cada nova ferramenta que se adiciona ao arsenal existente, estamos criando extensões, mais que rupturas. Esse é o movimento essencial da tradição. Ela não existe sem essa dinâmica, se constitui a partir dela. 

Portanto, devemos inicialmente relativizar e nos reorientarmos quanto a conceitos como evolução, ruptura, novo paradigma, etc: uma vez que estamos atrelados a uma corda muito longa, cuja vibração cria alterações de superfície, mas fincadas num mesmo eixo.

Tudo isso para colocar uma desconfiança básica que o cridor deve ter com relação a ferramentas e materiais que já trazem embutidos toda uma programação que é a sua razão de ser e determina boa parte de seu uso.
Prefiro trabalhar com softwares e hardwares mais neutros, que possibilitam uma manipulação ou que são meras ferramentas de coordenação de outros materiais.


sexta-feira, 16 de outubro de 2009

O PAPO FURADO DA TECNOLOGIA (II)


A colocação da discussão que relaciona tecnologia mecânica e eletrônica e criatividade, precisa ultrapassar as fases do deslumbramento  que novos meios sempre provocam nos sentidos primários. 

Essa fase, por si mesma, se esgota e infelizmente, deixa sequelas que se convertem, em padrões e formatações que ultrapassam a sua vida util e tornam-se paradigmas nas fases seguintes, onde outros elementos de formulação como a constituição de uma relação distanciada e crítica - enfim, de uma poética - toma o lugar do deslumbramento inicial.

Cada vez mais as ferramentas são criadas com usos e aplicaçnoes embutidas. Esses usos buscam ampliar a capacidade de mercado de consumo dessas ferramentas e tecnologias. Assim como a escala temperada de frequencias propiciou a fabricação em série de instrumentos musicais como o piano, acordeon, orgão, etc; o protocolo universal de linguagem de construção , formatação e processamento dos equipamentos eletronicos propricia que cada vez eles possam "conversar" entre si, ampliando e estimulando o seu consumo. Pragmatismo protestante.

Interessante é notar como os japoneses entraram nessa corrida por tecnologias de comunicação, imagens e música, uma vez que a sua cultura clássica baseia-se no imobilismo e na repetição de padrões.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O PAPO FURADO DA TECNOLOGIA (I)


Nos ultimos 30 anos as tecnologicas eletrônicas transformaram o modo de produção musical, mas e o modo de concepção musical? É certo que as maquinas direcionam os uso e procedimentos em grande medida, mas sempre foi assim, desde a invenção da tipografia. Existe um pensamento subjacente a tecnologia, elea não é neutra. Isso qualquer estudo sociológico mais crítico já vem apontando a muito tempo.

Mas e com relação a estética (outro palavrão)?

Ela também se baseia em idéias e valores que determinam também as pesquisas em tecnologia.

Assim, ficaria estabelecido um circuito fechado virtuoso..... ficção científica!

Na realidade, a tecxnologia deve cada vez mais responder a demandas do capital em suas ferramentas, usos e procedimentos, do que qualquer coisa. Aliás, essa passou a razão de ser do desenvolvimento tecnológico. Não se trata mais de uma, hoje vista, inocência iluminista de ampliação de conhecimento do homem; mas sobretudo, de criar possibilidades de novos negócios e oportunidades.

Isso me deixa com os dois pés atrás quando se fala em novas tecnologias na invenção artística e etceteras.  

Só mesmo quem não experimentou o que realmente significa trabalhar e criar na fronteira de novos procedimentos e materiais, pode adotar sem qualquer filtro crítico o discurso de fabricantes de equipamentos e seus advogados acadêmicos, que buscam legitimar para uma pequena comunidade (mais influente) essa corrida "tecnologica" na sociedade de consumo.



quinta-feira, 8 de outubro de 2009

OSESP DOS POBRES QUINTA PARTE


Ontem Décio Pignatari em um bate papo no SESC, bradou que "nos falta a compreensão de que um fato a 200 anos mudou tudo, inclusive nossas mentes: a revolução industrial!" 

Para ele, as mudanças de um mundo rural milenar para o mundo das máquinas, mecânico, formatou e formata as mentes. 

Isso é o importante: não apenas o aparente da tecnologia de máquinas e equipamentos, mas a tecnologia cognitiva e neuro-cultural que esta envolvida nesse processo. A mente projeta, a realização, é o resultado aparente. Voltamos aos Gregos e a questão da essência e da aparência. 

No mundo dos sons convivemos com um espectro de naturezas sonoras diversas: sons naturais, sons das máquinas, dos instrumentos musicais acusticos e eletro-eletrônicos e os sons digitais. Mas a linguagem que permeia a elaboração humana desse material tem recebido pouca atenção. 

O crescente automatismo cultural que predomina, a reboque da velocidade fantástica com que se ampliam as ferramentas de manipulação sonora, tem nos levado a um paradoxo: de um lado uma ampliação e de outro, uma retração. A ampliação é simples de se perceber, está na cara, ela se dá no plano do visível, das máquinas. A retração, é mais sutil, se dá no plano da linguagem. Uma vez que se mistura tudo com tudo, a contaminação - extremamente saudável e, certamente, parte de um processo do conhecimento e da dinâmica s-ócio-cultural - embaralha as coisas e faz prevalecer as soluções (darwinianamente falando) que devoram aspectos mais sutis e sofisticados de articulação da linguagem. Isso nos leva a um medianismo plural, mas que achata a geografia do conhecimento, nos conduzindo de uma forma mais segura - sem surpresas e desafios - numa planície em que a linguagem digital uniformiza procedimentos e usos.

A Orquextra de Musicos das Ruas é uma resposta a essa pluralidade ainda em processo falta agregar muitos outros universos de sonoridades.
 

sábado, 3 de outubro de 2009

OSESP D O S POBRES QUARTA PARTE


A Orquextra de Musicos das Ruas passa por uma tipificação dos personagens atuantes e também por uma organização temporal do espetaculo. Porque a musica é pensada sinfonicamente como um todo, um espetáculo, uma narrativa. 

Dessa forma, a organização temporal é o eixo principal. Na primerira temporrada de NEUROPOLIS na Sala Olido em São Paulo, 2004, criei um mapa de tempos e densidades. Ou seja, a duração de cada musica, o numero e quais musicos tocariam em cada uma delas. Não foi estabelecido o que eles tocariam, apenas quanto duraria e quem o faria.

A partir daí, foi estabelecer as conexões entre as identidades musicais e instrumentos.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

OSESP D O S POBRES TERCEIRA PARTE

(foto da BerlinerStrassenmusiker Orchester - Berlin, 2008)

A ideia de tocar musicos e não musica, é a base da Orquextra de Musicos das Ruas. Ao contrario da orquestra sinfonica, ela necessita da identidade de cada um de seus integrantes para formar o caldo cultural e sonoro. 

Dessa forma, particularidades, detalhes, pequenos gestos típicos, ganham importância na constituição do discurso sonoro. 

Uma forma específica de tocar um instrumento, um timbre unico que se retira dele; são alguns dos formantes de uma teia de relações semânticas/sonoras que se estabelecem a partir dos sons e não antes deles.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

OSESP D O S POBRES SEGUNDA PARTE


A Orquextra é uma fôrma onde cabem diferentes configurações. A Orquestra sinfonica é apenas uma delas. As Orquextras criativas moldam diferentes configurações sonoras e culturais.  Concebidas como reunião de diferentes (instrumentos, pessoas) elas podem atravessar estilos, gêneros e combinar tradicões musicais e culturais gerando novas informações musicais.

O que existe é uma dificuldade nas pessoas em geral em conceber a música como um espectro amplo e participante de uma mesma coisa, que inclue culturas, estilos, etc. A diferenciação entre os generos e estilos musicais esta impregnada na cultura média de hoje.

A Orquextra criativa é uma possibilidade de celebração da musica e do som com os ouvidos no presente: confluência de tradição e ação.

O modelão Orquestra de Primeiro Mundo é mais um produto de propaganda de governo do que uma realidade cultural efetiva. Atinge um numero determinado de pessoas, e está tudo bem. O unico problema é que consome uma parcela desproporcional do orçamento que o Estado - que é de todos, teoricamente - destina a cultura.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

O S E S P D O S P O B R E S PRIMEIRA PARTE


Porque o governo investe tanto dinheiro numa Orquestra Sinfonica? 

Na verdade estamos ainda buscando imitar modelos de cultura. Os modelos são a Europa principalmente e os EUA. Porque o poder publico investe tanto numa Orquestra Sinfonica e não aplica com a mesma intensidade em outras manifestações culturais? 

A cultura "erudita" tem bastante de oficial, de chapa branca. Ela faz parte do imaginário da elite brasileira e paulista, de tornar-se primeiro mundo. Quer imitar o modus vivendi da Europa e EUA. Isso é um tema velho , mas atualíssimo. 

Assim, ela legitima o investimento de tanto dinheiro numa Orquestra sinfonica, como se houvesse uma atualização cultural, estivemos numa corrida para nos tornarmos primeiro mundo e civilizados". 

O povo comum não tem nenhum complexo de ser europeu ou norte-americano, inventa suas proprias tradições e formas de expressão. 

O que me deixa perplexo é que esse complexo de inferioridade cultural persiste e atravessa gerações, impregnando os mais diferentes grupos. 

Veja-se o pessoal muderno, da arte contemporânea, ainda assim, correndo atrás das formas de como se faz lá fora! 

O meu tema aqui é mais focado: o que legitima o investimento do poder publico numa Orquestra Sinfonica e sucedâneos das Belas Artes (Ah, essa generosa viúva...) é o resultado de um complexo de inferioridade. Acho justo que tenhamos uma Orquestra que toque o orfeão do repertório sinfonico e etc; mas não existe nenhuma transparência e mesmo diálogo com a sociedade sobre as proposições institucionais do estado na área da cultura. 

Existe a imensa população sem-cultura e abandonada a TV. Existe as chamadas "culturas alternativas" que é a pecha que se arranjou para distribuir migalhas e catalogar como periférica expressões culturais e mantê-las com a esmola de um pretenso paternalismo.

Investir milhões numa sala de concertos e numa Orquestra para mostrar que a elite de São Paulo se emparelha as elites do primeiro mundo. Fazer essa Orquestra passear por lá, e mostrar no focinho deles que: Yes, nós temos Orquestra Sinfonica. Uma pretensão muito pequena e pobre se compararmos com a grandeza de imaginação e fantasia do povo brasileiro.

Lembro-me daquele quadro de humor do Paulo Gracindo nos anos 70, o primo rico e o primo pobre. Muito atual e generalizante em se tratando de discurso sobre "politicas culturais e de inclusão cultural".

Para a Orquestra de Musicos das Ruas de São Paulo, criei esse anti-titulo: "OSESP DOS POBRES".

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O QUE É UMA ORQUEXTRA (13i)


N C O 

A forma de escrever as musicas e roteirizar as alterações funciona de uma forma bem simples.

Cada musico redige as próprias notas num bloco de folhas brancas,  anota entradas, notas algumas dicas de outros instrumentos.

Se preciso for escrever alguma passagem para dueto, trio, etc: em forma de partitura, eu acrescento nos cadernos de cada um.

Cada folha vira uma musica.

O importante é que a partitura não prenda o musico, e que ele possa sempre reagir as anotações com um quê de interpretação dos dados, tornando inevitável alguma improvisação.

Por isso, as notas não muito precisas são interessantes, um certo espaço aberto de leitura das instruções imprime frescor e susto.

O QUE É UMA ORQUEXTRA (13h)


N C O 

Quando se lida com pessoas desgarradas e em busca de um Eldorado, a identidade sofre um processo de esquizofrenia " afirmação e negação estratégicas. Assumem o seu background cultural quando pode trazer alguma vantagem no contexto, e vice-versa.

Dessa forma, esse tipo de Orquextra é como um exército de Brancaleone, um reunião de párias socio-culturais, em diferentes medidas.


Existem os párias mais bem sucedidos e os menos. Existem os com um talento especial para a música, e outros que se utilizam dela. Esses são os mais interessantes.

Nunca me interessei por músicos virtuoses, em geral, são um chatos, egoconcêntricos.

Os músicos-médios, estão mais abertos as possibilidades de conversa e são pessoas em constante mutação, não se tornam o resultado da construção aditiva de uma carreira, de um peito cheio de medalhas.

A NCO tem músicos dois dois tipos, o que a torna ainda mais interessante, mas a convivência é as vezes conflituosa. As expectativas se chocam, e delas nasce a sua própria realidade como Orquextra.


sexta-feira, 18 de setembro de 2009

o QUE É UMA ORQUEXTRA (13g)


N E R V O U S     C I T Y     O R C H E S T R  A

Essa Orquestra tem um background quase homogêneo: a música latina. 
Que por ser uma tradição bastante arraigada na música informal, oral, popular, vai sofrendo alterações constantes. 

Assim, ao mesmo tempo, é constituida por elementos bastante fixos em termos de ritmo e harmonia. 

A criação musical pôde partir de células bastante simples mas características. 

Uma levada de guitarón arpejando um acorde aberto, pode combinar com um solo agitado de corneta chinesa (levada pelos chineses que atuaram em Cuba na época áurea de colaboração sino-cubana) com elementos melódicos de rumba.

A melodia de uma marcha muito conhecida de John P. SOUSA, pode ser o baixo de uma salsa com letra improvisada e maliciosa, dessa forma os "conteudos" semânticos vão se sobrepondo , provocando humor e ironia. 


quinta-feira, 17 de setembro de 2009

O QUE É UMA ORQUEXTRA (13f)


Assim como a Orquestra de Musicos de Ruas de São Paulo trazia a diversidade musical regional, a NCO de Miami traz a diversidade no approach de uma mesma tradição: a música latina.

Assim, alguns temas, ritmos, letras e timbres fazem parte da tradição musical na Nicarágua, Colombia, Venezuela, Rep. Dominicana, Cuba, etc. 

Aproveitei essas alterações de "sotaque" para um mesmo material no sentido de colorir a abordagem sonora. 

Interessante, que foi muito comum o debate a respeito de qual abordagem ou interpretação era a "correta" ou "anterior" segundo a tradição musical de cada um. O músico tem dificuldade em compartilhar sua herança musical com o vizinho, mas escancara e entrega de bandeja quando o colonizador (primo rico e distante) aparece para pilhar.

O que os aproxima os distancia ao mesmo tempo.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

O QUE É UMA ORQUEXTRA (13e)


Em Miami, os imigrantes de diferentes países da Latino e Centro América mantém uma certa distância - até por sobrevivência - entre si. 

Hondurenhos, Haitianos, Panamenhos,  Cubanos (majoritários e com grupos poderosos na cidade), etc; vivem quase uma vida de gueto. A comunicação entre eles existe, mas é restrita, a luta pela sobrevivência fala mais alto, ai os grupos se fecham. 

A cena musical naqueles anos -  a partir de 2005 - dividia-se entre a cena eletrônica de pista com os diferentes estilos praticados nos clubes e a música funcional junto as comunidades (festas, restaurantes, etc). Na música eletrônica de pista vem se consolidando a fusão entre o bate estaca e elementos da musica latina, tocados ao vivo com banda. Entre eles, o reggaeton

Os músicos da Nervous City Orchestra vinham desses dois universos de atuação. Assim, era inevitável uma sensação de desconfiança e de pé atras, que aliás aconteceu também na Orquestra de São Paulo e Rio de Janeiro, apenas na Orquestra de Berlim isso não ocorreu.

Interessante notar como se colocam os preconceitos de forma mais ou menos velada. Preconceitos de todo o tipo, dos raciais, religiosos a culturais. Havia na NCO, em Miami,por exemplo, um músico católico que se recusava a tocar numa música baseada num canto de santería cubano... mas esse tipo de situação foi muito rara. Na maioria das vezes, esses preconceitos se convertiam em piadas que se concentravam nos clichets sobre as características de cada país e cultura.

Certa competição entre a paternidade de alguns temas musicais comuns a varios paises das Américas apontava que, veladamente, viviamos no terreno da realidade. Um indício de que ali, estavam expostas as situações, condições históricas, etc; que os colocou naquele tempo e lugar.

Esse tipo de ambiente é o terreno fértil para a criação musical necessária nesse tipo de trabalho colaborativo, mas não desintegrante. Fricção e não ficção edulcorada de uma idealizada World Music pasteurizada.

domingo, 13 de setembro de 2009

O QUE É UMA ORQUEXTRA (13d)


N E R V O U S     C I T Y     O R C H E S T R A 

O unico músico norte-americano da NCO é Jesse Jackson, que parte do tempo vive num furgão e em MIami. Jesse é filho de um pintor da geraçnao pós-Pollock de Seattle. Ele estudou musica na Berklee em Boston. Canta, toca banjo, violão e sax. Compõe canções num estilo folk. No mais, musicos da republica Dominicana, Ilhas Virgens, Venezuela, Haiti, Colombia, Argentina (meu deus!...) e Cuba.
A biografia [dos shows da segunda temporada] de cada um retirada do site da Tigertail:
David Alsina/bandoneon— David Alsina, a native of Buenos Aires is a bandoneon player, composer, arranger and director of tango bands and string ensembles. David has performed since the age of eight. He has composed over 100 original songs. He has contributed bandoneon solos for television, music videos, and movie soundtracks and played on more than 30 CD's. 
Chad Bernstein/trombone— Chad attends the U. of Miami and currently works with the Spam Allstars. 
Luis Bofill/vocals & percussion— Luis graduated from the Conservatorio de Canto and the Universidad de la Habana. He launched a distinguished career in the late 70's as a member of Cuba Nueva. He has lived and toured throughout Europe and came to Miami in 1994. He has shared the stage with stars like Ruben Blades, Marc Anthony, Arturo Sandoval, Luis Enrique, Bono, Al Di Meola, Olga Guillot, Paquito de Rivera and many others. 
Elio Castilla/alto saxophone, voice, flute & Chinese-Cuban cornet— Elio began studying music in Cuba at the age of 12 where he graduated in saxophone studies at the age of 17 and began playing with different musical groups. Elio also specializes in the Chinese cornet, an instrument adopted exclusively by musicians in Santiago, Cuba to enrich the famous Carnival Congas. 
Jimmy Daniel, percussion and drum set —Jimmy Daniel recently relocated to Miami from New York City. He has toured and recorded extensively with such greats as Diana Ross, Aretha Franklin, John Cougar Mellencamp, Gladys Knight and Vanessa Williams. Jimmy spent years traveling in Africa, Brazil, Cuba and Haiti performing and studying. 
José Elias, Cuban tres, cavaquinho, guitar, surdo drum, boom whackers — José Elias is a multi-instrumentalist whose love for global music and sounds has enabled him to produce numerous projects throughout his 15-year career as a composer and musician. He has collaborated with an array of artist spanning different continents, which include Africa, Europe, Asia and the Americas. José was instrumental in assisting Mark Weiser with the selection of musicians for this project. 
Renée Fiallos, voice, flute, krumhorn, assorted percussion — Renée was raised in Miami. She is a self-taught musician who heads her own group Generica that specializes in music from the Medieval to Baroque period. She also performs with her jazz quintet in South Florida. She is a proud member of the Ordo Vagorum. 
Jesse Jackson, banjo, voice, assorted percussion — Jesse Jackson is a multi-instrumentalist who studied saxophone at the Berklee School of Music and is now a songwriter and street performer. Jesse's music is a blend of folk, blues and jazz. He claims, that "if Tom Waits, Willie Nelson, Louden Wainright III and Kris Kristoffersen had (not by force, only with permission) an orgy with Joni Mitchell, then I might be the result". 
John Kricker, tuba, bass trombone, toys— John Kricker graduated from the U. of Miami with a Bachelors and Masters in Music. He has performed with everyone from Luciano Pavaroti, Placido Domingo, Frank Sinatra, Tony Bennett, Lou Rawls, Linda Ronstadt, Pia Zadora, Nell Carter, Natalie Cole, Burt Bacharach, Roy Clark, Maynard Ferguson, Chuck Mangione to The Smothers Brothers, Dr. John and P Diddy and more. 
Elias Munera, gitárron — Elias Munera plays in Miami with the noted group Mariachi International. He is originally from Columbia, South America. In addition to gitárron he plays vihuela and percussion. 
Macarldie Nibbs, steel drum, digiridoo —Marcarldie is a multi-instrumentalist from Tortola in the Caribbean. He brings the flavor of jazz and Caribbean music with his steel drum and assorted instruments. Macarldie is a recording artist with four albums to his credit and can reached atwww.macarldie.com
Vicki Richards, violin— Vicki Richards is a classically trained violinist in both European and North Indian traditions. Her work fuses sound from her solid body violin and the electronic processor. It has resulted in widely heralded eclectic performances and recordings. Billboard has listed her recording in the top 100 of Progressive Music. 
Peter Rima, folk harp from Venezuela and Columbia— Born in Columbia, Peter has played the harp in Miami for twelve years. Peter plays traditional folk music as well as ambient music for the harp. The harp was brought to South America almost 500 years ago by the Spaniards. In Colombia and Venezuela the harp has been used extensively for folk music. 
Jan Sebon, voice, Haitian percussion, guitar—For twenty years poet and musician Jan Sebon has defined the Haitian experience in Miami. In 1985 Sebon founded Koleksyon KAZAK, a fusion of Haitian Roots music, jazz and political commentary. Jan has performed with such greats as Jane Cortez, Don Cherry, Urban Bush Women and Nana Vaconcellos. His current group Mundo Vibe encompasses Caribbean, West African, classical and jazz musical forms.


Foram 04 dias de ensaios com 4 horas de duração, no inicio o zero, ao final do terceiro dia : 01 hora de musica (?!)

sábado, 12 de setembro de 2009

O QUE É UMA ORQUEXTRA (13c)


N  E R V O U S     C I T Y     O R C H E S T R A

Miami é a confluência de diferentes expectativas. Aqueles que vão tentar a vida por lá, seja da América Latina ou Central, tem que lidar com uma sociedade de imigrantes jea estabeleceida e que pretende defender o seu espaço as vezes de uma foirma ainda mais ferrenha que os próprios norte-americanos. 

Nada é facil, e para o músico que habita Miami, restam apenas as migalhas. Eu explico. A cidade reune grandes eventos corporativos (Sol & praia) e tambem é a sede de conglomerados importantes da mídia hispânica. De lá, partem as programações para a MTV Latina, entre outras.

Por sua vida noturna de cidade de veraneio, Miami lança moda em têrmos de sub-estilos da música eletrônica de pista. O reggaeton, por exemplo,  entrou definitivamente na América depois que Miami o acolheu.

A Winter Music Conference  reune as grandes empresas de equipamentos de audio para DJs e similares, elas lançam seus produtos por lá. Estive num desses lançamentos em 2005, por ocasião da primeira temporada da Nervous. Fui levado pelon Benton C-Bainbridge que estava criando os videos para o show. Ele, de Nova Iorque, tinha varios amigos trabalhando nos show-rooms das empresas naqueles hotéis art deco de Miami Beach.

A euforia do négocio música eletrônica de pista que movimenta milhões de dólares.

Assim, para o musico imigrante latino que pratica as suas tradições musicais acusticas, sobram as migalhas.

Levando tudo isso em conta,  dei minhas boas-vindas - sem temor, nem esperança [conf. o motto poundiano] - ao grupo de 14 musicos que me foi apresentado numa sala de ensaio de dança improvisada para música (tinhamos que tirar os sapatos para não estragar o linóleo, o piso) em Little Havana.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O QUE É UMA ORQUEXTRA (13b)


N E R V O U S     C I T Y      O R C H E S T R A

Assim em 2005 foi formada a Nervous City Orchestra numa tradução livre e adaptada de Neuropolis. 

Um produtor musical local, amigo de Mary Luft, e programador da tradicional casa de shows TOBACCO ROAD, Mark,  ficou encarregado de procurar musicos interessantes e mandar uma lista pra mim. 

No primeiro de dia de encontro, tinha de tudo. desde músico hondurenho que tocava Koto (instrumento tradicional japones) em lounge music de lobby do Hotel Intercontinental até um saxofonista cubano, babalorixá de santería que era sósia do Cahrles Mingus. 

Uma mistura incrível, estava na cara que o negócio podria dar certo. 


O QUE É UMA ORQUEXTRA (13a)



N E R V O U S    C I T Y    O R C H E S T R A


Quando eu menciono que venho desenvolvendo trabalhos na cidade de Miami, EUA, a vinte anos, as pessoas por aqui em São Paulo [ a cidade onde o Jet set se converte Jeca-Set...]  torcem o nariz, e pessoas de todos os tipos fazem isso... eu entendo, afinal foi a cidade pra onde fugiu o Collor depois do impeachment.

Mas Miami é muito mais do que isso, começando pela coreógrafa e produtora de lá, Mary Luft da produtora Tigertail (www.tigertail.org). 

Quando contei a Mary que estava tentando criar em São Paulo a Orquestra de Músicos das Ruas de São Paulo, ela de cara me propos de realizarmos o mesmo em Miami.

Afinal é a cidade da diáspora latina. 

Não deixa de ser uma "São Paulo" norte-americana para onde imigram os latinos e centro americanos em busca de uma vida melhor. Guatemaltecos, panamenhos, hondurenhos, haitianos, entre outros, são os pau de arara, cabeça chata de lá...

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

O QUE É UMA ORQUEXTRA (12a)


O link para o documentário sobre a
ReIncorporação Musical no Youtube é:

http://www.youtube.com/watch?v=4By-eJUkmdM



O QUE É UMA ORQUEXTRA (12)


A ReIncorporação Musical é um ação musical sobre uma forma de fazer música congelada no tempo: a banda de coreto e de desfile. A Corporação Musical Operária da Lapa é um dos grupos mais antigos em atividade em São Paulo. 

Foi criada ainda no Império, em 1881 pelo maestro Chiafarelli, e contava com muitos funcionários da antiga São Paulo Railway, passou por diversas transformações desde lá, mudando de nome (o documentário feito sobre eesse projeto pode ser visto no Youtube , chama-se "Lapa?"). Eles estão lá num sobrado próprio perto do Shoppimg Lapa e do Terminal de ôn ibus, a casa foi doado por um imigrante e comerciante italiano no começo do século 20.

Um dos alnces mais interessantes é que a Corporação ensaia de portas bertas sempre. Assim, os passantes podem entrar e curtir o ensaio. Alguns deles são aposentados, moçada curiosa com o som potente dos metais, mas também as vezes aparecem uns desocupados, bebados e isso faz parte dessa filosofia incrivel de manter sempre as portas abertas. 
 
Pensei então: porque não fazer conversar a música dos dobrados e marchas com a chamada música eletrônica de pista? 

Os principios rítmicos são os mesmos: compasso binário e quaternário, pouca variação rítmica e de andamento. Assim nasceu a idéia da "ReIncorporação Musical" apresentada no 4HYPE do SESC Pompéia em 2005.

A apresentação foi complementada por videos ao vivo criados por mim Lucas Gervilla e Joana Cancio. Ainda inclui alguns elementos da linguagem das bandas como uma baliza que fazia evoluções , mas também um elemento estranho, uma performer (Rita Martins) que ficava extaática no meio da Banda com um megafone em punho que nunca falava.

O resultado foi instrutivo: os velhinhos da Corporação adoraram a experiencia, já a moçada "muderna" dos clubbers e eletronicos em geral torceram o nariz:"o que esses velhinhos estão fazendo aqui?!..."

terça-feira, 8 de setembro de 2009

O QUE É UMA ORQUEXTRA (11)




B L I N D     S O U N D     O R C H E S T R A

Vamos aos cegos: a interrupção

A BLIND SOUND ORCHESTRA foi criada para a I Jornada Brasileira de Cinema Silencioso promovida desde 2007 pela Cinemateca Brasileira com curadoria de Carlos Roberto de Souza, que me convidou para fazer a curadoria musical. 

A idéia de um grupo de músicos cegos fazendo ao vivo a música para um filme mudo, vem da idéia principal de interrupção e voyerismo.

Interrupção dos sentidos, o filme mostra mas não fala, os músicos falam mas não enxergam... 

O publico completa esse triângulo, como um voyeur, completando a relação ver-ouvir. Uma certa perversão acompanha o público em relação aos músicos, uma vez que eles podem fruir a completude da situação: capturando a ação dos músicos, que estão numa situação de relativa impotência sensorial.

Os sentidos se destacam e ganham autonomia, quebrada essa pureza conceitual (ou antes, desconstruída..)  por truques baratos de music-hall, vaudeville e freak show: através de um ponto eletrônico colocado no ouvido dos músicos - mas imperceptível ao público - eu envio as mensagens, comandos, instruções musicais básicas (uma vez que são músicos muito simples, tocam nas ruas em suas cidades...) aos músicos possibilitando sincronizações com situações do filme, como trovões, gente brigando, socos, quedas, beijos, etc.

Esse é o fator circo da coisa. 

Ao fundo, uma sensação de melancolia emoldura o tom melo-dramático e pietista. 

Mas na potencia dos "efeitos especiais", os músicos respondem a perversão sensorial do público que os devora.

Ambiguidades, truques, tudo para colocar em tempo musical questões como a relação imagem-som, etc.

Os heróis se chamam: José Rosa (andarilho, no momento em Rio Claro (SP)), Clarice Mantovani e Alcidio Correia (S.J. do Rio Preto, SP) e JP SOM( Araraquara, SP).

Nós tocamos o filme "Aitaré da Praia" de Gentil Roiz (Pernambuco, 1925), entre outros.



O QUE É UMA ORQUEXTRA (10)




Uma Orquextra pode ser uma invenção. Pode ser a articulação de um novo leque de possibilidades sonoras, semânticas e performáticas.
Partindo de uma hierarquia instrumental tradicional-padrão : acompanhamento, solo, etc; a prática do conjunto e a linguagem musical pode subverter essa hierarquia e propor um novo estado de coisas sonoro.
[É claro, que isso também se aplica aquele uso funcional e um tanto quanto fascista da Orquestra como metáfora de sistema organizacional eficiente por consultores de RH e quejandos...].
Ela pode expressar a fugaciudade, o caos, o imprevisto que habita na vida de todos. Expressão de individualidades e não de um conjunto, conversa a várias vozes. Contraponto.

domingo, 6 de setembro de 2009

O QUE É UMA ORQUEXTRA (9)

Por seusentido estrito de hierarquia e disciplina a Orquestra da música erudita foi tomada como modelo organizacional pelo pessoal encarregado nas "relações humanas"  (quanta ironia em apenas duas palavras...) nas empresas e corporações, sejam privadas ou estatais.
Tomada como o supra-sumo da eficiência, a Orquestra tem levado maestros  e músicos a um ramo de atividade que é o de treinamento complementar de funcionários, empresários e gestores.
O que se destaca é o fato de que seu funcionamento se dá com uma harmonia suoprema e complexa, onde cada peça trabalha para o conjunto. Obedecendo com rigor, as instruções do regente que conduz o barco com segurança atravessando tempestades, navegando com firmeza no dia a dia de um grupo de pessoas heterogêneo.
Como uma organização complexa, a Orquestra encontra na hierarquia um duplo na partitura musical, onde esta tudo fixado: solistas, vozes secundárias, acompanhamento. A própria linguagem musical tonal se encarrega de erguer o edifício da hierarquia, que só pode ser cumprida a contento com obediência total. 
Na medida em que a linguagem musical foi incorporando elementos que questionam esse modo de fazer musical, não apenas as dissonâncias, etc: mas inserindo novas formas de composição como a improvisação, a música aleatória, os ruidos estranhos ao instrumental clássico da orquestra, etc.; essa hierarquia foi sendo alterada, e com ela a própria estrutura da Orquestra se viu sob xeque.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O QUE É UMA ORQUEXTRA (8)

Certamente um cálculo estatístico a respeito dos fluxos, movimentos, ritmos na cidade revelaram um movimento caótico com um certa estabilidade e recorrência. As variações assimétricas vistas em larga escala, se transformam num padrão. Da mesma forma os processos criativos coletivos, após um período inicial, onde o caldo das diferenças entra em ebulição, começam a ser reconhecidas algumas recorrências e padrões. Em termos de som, esses padrões é que nos dão aquela alegria de reconhecer um lugar, do ponto de escuta deles, quando retornamos depois de um longo tempo. Na Alemanha, por exemplo, é complicado voce atravessar aa rua de ouvido.... Os motores cada vez mais silenciosos são um perigo para o incauto ouvinte. Já no Brasil, isso é mais do que seguro.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

O QUE É UMA ORQUEXTRA (6)


A cidade e a Orquextra são organismos similares. É claro, uma vez que o que os rege são as inter-relações entre seus integrantes e procedimentos. Assim, uma análise dos fluxos repetitivos na rotina de uma cidade - seja ela pequena, média, grande ou metrópole - estabelece uma amplitude de ritmos que formam o repertório de seu funcionamento básico. As oscilações fazem parte do sistema, cuja instabilidade calculada faz parte de sua natureza. As ruas são melodias que fluem, e o triansito pesado são as pausas, os acordes são amontoados a medida que os diferentes sistemas inter-relacionados se sobrepôem: fluxos de pessoas lotando o metrô nos horarios de pico. As analogias são inúmeras, basta abrir os ouvidos e olhos!

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O QUE É UMA ORQUEXTRA (6)
Similar ao projeto da orquestra West-Eastern de Barenboim-Said foram algumas inciativas empreendidas por músicos afro-americanos desde o início da história do Jazz e do Blues. Exemplos, de que a união faz a força. Associações de músicos como as de Chicago: Association for the Advancement of Creative Musicians (AACM), organização sem fins lucrativos, fundada pelos músicos afro-americanos  Muhal Richard Abrams,  Jodie Christian,  Steve McCall e o compositor Phil Cohran. Essa é apenas uma entre outras tantas que resultaram em grupos como a Arkestra de Sun Ra, por exemplo, alargam e amplificam a idéia de que um agrupamento de músicos pode ser muito mais que um bando de caras tocando amontoados. Um agrupamento de idéias e práticas próprias. O contraponto que o be-bop estabeleceu com relação aos ritmos dançantes, que foram incorporados no lazer do branco médio americano nos anos de 1930 e 1940 (época da Guerra, tempos difíceis...) como o swing; criando uma ruptura na fruição social da música negra, devidamente lavada por genios como Benny Goodman entre outros, foram pioneiros num movimento dentro da música negra norte-americana que desembocou em criadores como Ornette Coleman e Charlie Mingus e seu Jazz Workshop. Um movimento libertário na concepção de grupos musicais mais amplos. Não há como deixar de pensar na fase de transição - num contexto sócio-politico tão duro como o norte americano para o cidadão negro, ainda de segunda classe sem os direitos civis plenos - na Orquestra que Duke Ellington manteve atravessando décadas e fases. Ellington mediou as tensões das tradições das big bands branca com os influxos da música negra religiosa e do jazz (The Sacred Concerts, é um bom exemplo disso). Uma história bastante rica e que ainda hoje se desenvolve nos Estados Unidos (e também na Europa, especialmente na Holanda) em inúmeras inciativas que vêem na  constituição de uma agrupamento maior de músicos possibilidades abertas de criação e práticas sonoras.

O QUE É UMA ORQUEXTRA (5) As Orquestras sinfônicas se tornaram simbolos ao longo do tempo de status social, cultural e politico. O mais recente uso positivo desse poder simbólico foi feito por Daniel Barenboim e o escritor Edward Said, a Orquestra West-Eastern, que congrega musicos judeus e palestinos.
Mas majoritariamente, o uso simbólico da Orquestra Sinfonica, foi apropriado pelo Estado em suas diferentes esferas. Orquestra Nacional, Estadual e Municipal.  A face "ilustrada" do estado, num Brasil onde cultura é um negócio é mais questão de status quo, que de politica pública. Os artistas que dela participam se tornam colaboradores de sua função, com uma mentalidade de funcionalismo público, no pior sentido da palavra, ou seja, sinônimo de acomodação, conservadorismo e desinteresse público.
Minha experiência pessoal com esse meio institucional começa em 1984, quando a convite de Fernando Peixoto e Isaac Karabtchevsky, compus para o Teatro Municipal de São Paulo o balé-cantata O. DE  A. DO BRASIL (Oswald de Andrade do Brasil) em 1984, marcando 30 anos de falecimento do poeta e escritor.
Então, aos 23 anos, após entregar na portaria do Municipal uma partitura (a primeira versão da ópera O Inferno de Wall Street - texto de Sousândrade) algumas semanas depois fui chamado para uma conversa com ambos. Foi então, me encomendado uma criação para a Orquestra Sinfonica do Teatro Municipal e demais corpos estáveis, para homenagear Oswald.
Em resumo: o balé não queria bailar, o coro não queria cantar e a Orquestra não queria tocar. Uma experiencia notável, fiz ali, meu PhD em músico de orquestra e artista-funcionário público. 
Nunca mais pisei no Municipal para trabalhar com os chamados "Corpos Estáveis"...

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O QUE É UMA ORQUEXTRA (4)
John Cage falando sobre musica & som num documentario - disponivel no Youtube : http://www.youtube.com/watch?v=2aYT1Pwp30M 
" quando eu ouço o que a gente chama musica, tenho 
a impressão de que alguem esta falando, e falando sobre seus sentimentos ou sobre 
suas ideias de relacionamentos.
Quando eu ouço os sons de trânsito na rua, eu não tenho a sensação de que ninguem 
esta falando, mas de que o som esta atuando e eu amo a atividade do som.
O que ele faz é ficar mais alto mais baixo, mais agudo e grave, curto e longo; 
eu me sattisfaço complemente com isso. não preciso de sons falando pra mim."

A ideia de Orquextra como analogia da cidade trem muito a ver com isso na formulação sonora. 
É um texto anterior a execução sonora que nega os pressupostos tradicionais da execução sonora em conjunto.
A cidade não é apenas TEMA do material, mas ela é o proprio material. Não se esta fora do objeto, 
falando ou sentindo ou tecendo teorias sobre ele.
A razão de ser dessa ação musical é estar no meio dele, ser parte dele.


quinta-feira, 27 de agosto de 2009

OQUE É UMA ORQUEXTRA (3)

Se considerarmos que colcocar algumas pessoas fazendo musica junto reflete um formato já pré-existente na vida social, a Orquextra vem se desdobrando a partir de diferentes referencias: igreja, escola e Estado. As corporações (o próprio nome já indica) eram formações musicais criadas em categorias profissionais - com seus integrantes - a partir da Revolução Industrial. 
Já no Japão, desde a muito tempo, familias tradicionais de músicos através de várias gerações estabeleceram escolas onde reproduzem o seu conhecimento e práticas.
As igrejas - das mais diferentes tradições no Ocidente e Oriente - criaram formações musicais com funções bem determinadas nos cultos e rituais. Martinho Lutero - o reformador - usou a prática musical de forma extremamente engenhosa. Seguindo o processo racionalizador do Iluminismo, que respondia também a demandas sociais, políticas e econômicas, ao buscar estabelecer bases "racionais" para a prática musical na Europa Central, Lutero criou padrões de prática musical, estabelecendo, texto (melodia e texto) e inserindo a narrativa musical em fórmulas simples no decorrer do ritual religioso, da missa. Respondendo assim a todo um movimento da época que empreendeu a busca de padrões fixos de comunicação, que pudessem ser reproduzidos de forma mecânica, criando assim uma nova escala de divulgação e alcance para esses materiais. O cravo ficou bem-temperado e assim, pôde ser reproduzido em larga escala, sem que houvesse grande variação no seu  formato. Reproduzia um padrão "racional" de afinação e execução musical. Complementando esse movimento, edições de músicas deviam se adequar a esse enquadramento e homogeinização na formulação e representação dos parâmetros sonoros como altura, duração, ritmo e dinâmica. 
A rotativa começava a girar e a ganhar cidades e vilas nunca alcançadas. 
Poderia-se amolecer almas nos rincões mais recônditos com o mesmo material e a baixo custo. Mestres de Capela teriam um treinamento uniforme e estariam amparados por materiais homogêneos, seguindo uma linguagem musical única. 

Esse modelo o Estado moderno vai reproduzir na versão laica.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O QUE É UMA ORQUEXTRA (2)
Uma Orquestra é sobretudo relações que se estabelecem. A natureza dessas relações determinam o tipo de conjunto - ou Orquestra - existente. Certas características da composição musical pré -existente também pode determinar o tipo de relações que serão estabelecidas entre os participantes na exucução, na Orquestra. O mais importante, pra inicio de conversa, é identificar as relações humanas, sociais, politicas e criativas que estão colocadas em cada composição e modo de operar do grupo musical. Não ter receio em considerar que qualquer agrupamento humano é de alguma forma a expressão do macrocosmo, uma miniaturização, já é um início. 

terça-feira, 25 de agosto de 2009

O QUE É UMA ORQUEXTRA ? (01)

Uma Orquextra é um corpo coletivo. Uma rede, em linguagem cibernética. Ao longo do tempo, a conformação e configuração do tocar junto adquiriu procedimentos, estratégias e significados que refletiram aspectos da sociedade e da cultura da época.
Um bando de músicos tocando juntos, retratavam relações sociais também. A criação da figura do condutor, do regente, foi um reflexo do desenvolvimento da linguagem musical na Europa.
Mas na música chinesa, japonesa e em outras tradições não-ocidentais por exemplo, esse personagem faz parte de todo um sistema de hierarquias e tradições que remetem até mesmo ao príncipio da ancestralidade parental. Familias dominam a transmissão do conhecimento na música, teatro e dança no Japão com uma legitimidade quase que tribal.
Como um organizador do tocar junto, o regente na música ocidental é uma espécie de concretizador das instruções que  o compositor colocou na partitura.
A orquestra sinfônica se desenvolveu em paralelo a estrutura do Estado moderno. Criou instâncias e regiulamentações cujo perfil oas faz parecer com uma repartição pública. Existem as conquistas de direitos civis, é óbvio; mas também ela se ressente de um burocratismo nas relações sociais e também criativas, assumindo um papel social cristalizado, mumificado na sociedade pré-democrática e democrática.
Recordo John Cage que escreveu algo assim: um grupo de músicos não precisa necessariamente se amontoar com numa foto oficial de um time de beisebol.
Existe o som e o espaço.



segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Musica, pra quê?!

Uma orquestra de Gagaku no Japão Imperial tocava não para a platéia, apenas para expressar a harmonia de seus praticantes e do entorno. Na tradição do Gagaku, em em geral da rtae japonesa, a idéia é imitar o mais possível o mestre, chegar ao refinamento, não a inovação. Imobilidade.
No Ocidente, em especial na música de tradição européia, a imitação leva a decadência, degenera. O movimento se dá na ruptura, uma forma legítima forma de continuidadee porque refinamento (de refino).
Outro aspecto interessante no Gagaku, é que como se perderam os manuscritos das composições completas, o que se toca - amuito - são fragmentos. Trechos musicais , cujos inicios e finais se perderam, essa incoompletude, criou uma sensação de que a música vem de algum lugar ja iniciado e não chega a lugar algum muito determinado, uma vez que o final da estrada é incerto e se perdeu.
Um outro elemento interessante é a idéia de que entre as notas existe um espaço vazio, Ma, de respiração, um espaço negativo (intervalo de vazio entre objetos). O conjunto deve então respirar junto, como um grande corpo coletivo na execução musical.